Cães também podem ter autismo, sugere pesquisa
Genes associados com autismo, ansiedade, transtorno compulsivo-obsessivo e outros problemas psicológicos são geralmente relacionados a humanos, mas também têm sido encontrados em cães, sugerindo que muitos desses animais podem sofrer de distúrbios mentais.
Uma nova pesquisa, publicada na seção Scientific Reports, da conceituada revista Nature, revela o quão maleáveis são as regiões de genes identificados em cães, já que uma certa variação deles parece explicar a diferença entre um cão retraído e outro que busca desesperadamente a companhia humana.
A boa notícia é que, assim como acontece com os humanos, “há tratamentos que pelo menos amenizam os sintomas”, avaliou o autor-sênior da pesquisa, Per Jensen, do AVIAN Behavior Genomics and Physiology Group, da Universidade Linköping, da Suécia. “Em relação aos transtornos similares ao autismo, ainda não foram feitas muitas pesquisas, mas o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é um grande problema, especialmente em algumas raças de cães. Comportamentalistas caninos geralmente têm programas de treinamentos que podem aliviar alguns desses sintomas”, explica Jensen.
Jensen e sua equipe registraram a propensão de cães da raça beagle (que eram mantidos e socializados sob condições uniformes) a iniciar interações físicas com seres humanos durante uma tarefa de resolução de algum problema. Para a tarefa, os cães tinham que deslizar três tampas de um pote, a fim de obter petiscos, mas uma das tampas foi fixada e não podia ser aberta. Os pesquisadores observaram se os cães teriam algum tipo de interação com os humanos, como a busca de contato com os olhos.
Os genomas de 190 beagles foram analisados. Os cientistas identificaram duas regiões de genes, contendo um total de cinco associados com a habilidade de conexão de cães com os humanos. Em particular, um marcador genético com o gene SEZ6L foi associado ao tempo gasto junto aos humanos, com contato físico. Dois outros marcadores, localizados no gene ARVCF, também foram associados com cães que buscam o contato com as pessoas.
“Um marcador genético é uma simples variação na sequência de DNA entre diferentes indivíduos. Pode ser um gene mutante, mas no nosso caso, as mutações são encontradas em regiões não codificáveis”, explica Jensen.
Mesmo que algumas dessas variações estejam ligadas a questões de saúde mental, os genes geralmente não oferecem uma visão completa da história: “Pelo comportamento particular que estudamos aqui, que é a propensão em buscar proximidade e cooperação com os humanos em situações difíceis, os genes são responsáveis por cerca de 30% da variação vista na população estudada, então há muita margem para melhoria e modificação de comportamentos por meio de treinamento”, disse Jensen.
Os cães podem ser especialmente propensos a distúrbios patológicos, uma vez que pelo menos alguns dos seus genes, para não mencionar os organismos, parecem ser muito maleáveis por causa de práticas de criação. Criação de cães de raça pura, por exemplo, pode afetar tanto os traços físicos e comportamentais em relativamente poucas gerações. “Não sabemos por que os cães são tão elásticos”, disse Jensen. “Na verdade, o cão é a espécie mais variável do planeta em relação ao tamanho, forma e comportamento. Compare, por exemplo, o tamanho de um chihuahua com um Great Dane, ou o comportamento de um terrier e um border collie”. E ainda completa: “Há uma possibilidade de que raças e cães criados individualmente, em alta independência e resistência, realmente possuem traços semelhantes aos dos seres humanos autistas”.
Por causa das ligações genéticas com os seres humanos, os cães poderiam servir “como um novo sistema-modelo para distúrbios sociais humanos”, acreditam os pesquisadores. Adam Miklósi, diretor do Projeto Family Dog e chefe da etologia na Universidade Eötvös Loránd, contou ao Discovery News que outro especialista canino, Karen Overall, levantou uma ideia semelhante de volta no ano de 2000.
“Os resultados deste estudo poderiam ser interessantes como indicação de alguns novos genes que regulam o comportamento social nos cães”, Miklósi disse, mas acrescentou que mais pesquisas devem ser feitas para excluir explicações alternativas para as descobertas recentes, como a possibilidade de que “beagles de laboratório podem representar uma população específica de cães”.
“Os pesquisadores supõem que o número de genes envolvidos tanto na esquizofrenia e transtornos do espectro autista poderiam ser mais de 100”, afirmou Miklósi. Por isso não é tão surpreendente que Jensen e seus colegas identificaram alguns deles em cães.
Fonte: Seeker.com Tradução: Conexão Pet
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